sexta-feira, 29 de abril de 2016

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Poesia: Se se morre de amor


Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro

Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr'ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!

Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d'ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!

Se tal paixão porém enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d'êxtases puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;

Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ãnsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!

Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!




Gonçalves Dias

Análise literária: "Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe


  O livro que vou falar agora iniciou a escola literária do Romantismo, sua história é incrivelmente sensível e é preciso ter uma alma muito forte e dura para não se emocionar com toda essa história.
  O livro é romance epistolar, ou seja, é contado por cartas, de Werther a seu amigo Wilhelm em que conta sua vida na nova cidade em que conhece a jovem Charlotte. Um amor que tem como limites a própria morte.
  Um verdadeiro clássico da literatura alemã, feito pelo maior escritor da historia da Alemanha, Johann Wolfgang Goethe, “Os sofrimentos do jovem Werther” vai contar um amor impossível. Charlotte promete a mãe em seu leito de morte se casar com o cavalheiro Albert que era seu grande amigo, sendo assim, um casamento que prometia a felicidade. Isso tornava o relacionamento de Werther e Charlotte impossível, mesmo o amor sendo mutuo.
  A história desse jovem sensível, ao ser publicada em 1774, causou o chamado “Efeito Werther”, que é uma série de suicídios entre jovens na Europa que se comparavam a Werther. Mas essa comparação não é apenas no lado romântico, mas também pela sua visão de mundo. Estamos falando aqui de um jovem que vivia em negação a sociedade e a acreditava despida de valores emocionais, um lugar louco como ele próprio dizia.
Goethe se demonstra muito sensível e o verso do livro explica o porquê. Johann Goethe era apaixonado por Charlotte Buff, noiva de um amigo, sendo assim a obra fruto de uma vida inquieta.
  Essa história com final trágico, drama essencialmente psicológico, em um estilo romântico que comparo com “Romeu e Julieta”, mostra um homem contra os valores sociais e apoiante do sentimentalismo e o amor fora dos padrões sociais, que é o amor livre das convenções. Devido a isso, Werther se tornou modelo de herói romântico de sua época e de gerações futuras.
   Uma historia cheia de frase, entre elas:

“…a vida humana é apenas um sonho…”


 “…Átonita, perplexa, viu-se à beira de um abismo; tudo era trevas ao seu redor, nenhuma esperança, nenhum consolo, nenhuma idéias de futuro! Pois ele a abandonou, ele que dava sentido a sua existência. Não via mais o vasto mundo a sua frente, nem aqueles que poderiam substituir quem ela perdeu, sentindo-se sozinha, abandonada por todos… Cega, oprimida pelo terrível vazio em seu coração, precipita-se para a morte, que tudo abarca, sufocando assim todos os seus tormentos…” (pág 58)

“…Sabe Deus quantas vezes vou para a cama com o desejo, sim, com a esperança de nunca mais acordar” E de manhã abor os olhos, torno a ver o sol e sinto-me um desgraçado…” (pág 102)

“…Às vezes digo a mim mesmo: o seu destino é único; considere os outros felizes… ninguém sofreu tanto assim. E, depois, leio um poeta antigo e é como se estivesse lendo o meu próprio coração. Tenho que passar por tanta coisa! Ah! Será que já houve antes de mim homens tão desgraçados?…” (pág 106)

Podemos ver aqui todo o seu sofrimento e seu dilema: conseguir o amor de Charlote ou morrer.

Sobre o autor
Johann Wolfgang Goethe nasce em 1749, em Frankfurt, e morreu em 1832,em Weimar. Cria primeiro o livro “O cavalheiro da mão de ferro” do estilo literário Sturm und Drang. Seu amor por Charlotte Buff lhe fez criar os “Sofrimentos do jovem Werther” , obra precursora do romantismo, e futuramente criaria Fausto, obra diferente de seus padrões, e livros científicos como “A teoria das cores”. Outro livro romântico por ele escrito seria “Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister” . Casou-se com Christiane Volpius e morreu dez anos depois, mas essas obras o fariam ser considerado por muitos o maior escritor da história alemã.

Opinião

Encontrei esse livro na biblioteca de minha antiga escola. Ela era uma péssima biblioteca, cheia de romances eróticos, contos sem criatividade e poesia sem inspiração, mas por acaso encontrei esse livro e que logo vi que era diferente, se tornou a leitura mais deleitosa que tive e o meu livro favorito. Essa história me fez derramar mil lágrimas e não importa quanto eu leia, vou continuar chorando. Sua história romântica fez com que me identificasse com ele, porém sem tentar o suicídio. Meu amor por esse livro foi tanto que o comprei no ano seguinte, sua história nunca saiu da minha cabeça e espero que não saia da sua caso leia alguma vez. Recomendo com R maiúsculo. 

sábado, 16 de abril de 2016

Uma gota de arte I

Decidi que vou colocar também algumas obras de arte e tudo que envolve a arte em si.
Aqui está a primeira:
O anjo da morte, por Horace Vernet.
Demonstra atração pela morte, típica do Romantismo.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Poesia: A Inês





Não me sorrias à sombria fronte,
Ai! sorrir eu não posso novamente:
Que o céu afaste o que tu chorarias
E em vão talvez chorasses, tão somente.

E perguntas que dor trago secreta,
A roer minha alegria e juventude?
E em vão procuras conhecer-me a angústia
Que nem tu tornarias menos rude?

Não é o amor, não é nem mesmo o ódio,
Nem de baixa ambição honras perdidas,
Que me fazem opor-me ao meu estado
E evadir-me das coisas mais queridas.

De tudo o que eu encontro, escuto, ou vejo,
É esse tédio que deriva, e quanto!
Não, a Beleza não me dá prazer,
Teus olhos para mim mal têm encanto.

Esta tristeza imóvel e sem fim
É a do judeu errante e fabuloso
Que não verá além da sepultura
E em vida não terá nenhum repouso.

Que exilado - de si pode fugir?
Mesmo nas zonas mais e mais distantes,
Sempre me caça a praga da existência,
O Pensamento, que é um demônio, antes.

Mas os outros parecem transportar-se
De prazer e, o que eu deixo, apreciar;
Possam sempre sonhar com esses arroubos
E como acordo nunca despertar!

Por muitos climas o meu fado é ir-me,
Ir-se com um recordar amaldiçoado;
Meu consolo é saber que ocorra embora
O que ocorrer, o pior já me foi dado.

Qual foi esse pior? Não me perguntes,
Não pesquises por que é que consterno!
Sorri! não sofras risco em desvendar
O coração de um homem: dentro é o Inferno.

Lord Byron

Análise literária: Jesus, o maior psicólogo que já existiu, de Mark W. Baker.


  O livro que vamos ver é sobre a guerra entre a psicologia e a psicanalise e como elas tem tanto em comum. Jesus e Freud foram duas figuras importantes para o cristianismo e a psicanalise, respectivamente, e ambos deixaram sua marca na história humana, porém tiveram diferentes marcas. Jesus apoiava a fuga da vida mundana e a ida para o mundo divino, para a salvação, sendo assim, a religião faz o ser humano alcançar a vida eterna e a felicidade. Já Freud acreditava que a religião era uma maneira de as pessoas se apegarem a algo que lhes dá esperança, uma espécie de válvula de escape para os problemas, essa válvula limitava o ser humano e o torna escravo de uma inverdade, que se deve fugir da própria humanidade, para ele, o inconsciente era a chave para se resolver problemas psíquicos e manter uma boa relação com o ambiente.
  Neste livro, Mark W. Baker mostra que pode haver um vinculo entre a religião e a psicanalise sem ter a pregação e a oração dos livros religiosos ou explicações cientificas dos livros psicanalíticos. Tudo vai a base de uma única teoria, tanto para a religiosidade quanto para a psicanálise do livro: Jesus quer que que tenhamos uma boa relação com Deus e com as pessoas.
   Diversas histórias de pacientes do escritor, que trabalha com terapia, nos provam o quanto a religião a psicanalise tem tudo a ver com as relações humanas. Um dos exemplos é a história do menino Rick que aparece no capítulo 7, no subcapítulo “O Segredo para sobreviver ao sofrimento”. O menino Rick sofria bullying na escola por ser baixinho e era o último a ser escolhido em jogos, mas teve apenas um dano psicológico, não um trauma. Isso porque ele tinha Greg, seu amigo. Quando um valentão jogou Rick em uma lata de lixo, Greg o olhou como se o estivesse consolando, e isso foi o suficiente.
  O que explica esse fator da psique humana é que Jesus quer que tenhamos um bom relacionamento com Deus e com os homens, ele não exige algo que está longe do pedido pela psicologia, pelo contrário, quer aquilo que a psicologia quer: um bom relacionamento com o mundo ao redor.
  Um livro interessantíssimo e bem argumentado, com passagens da bíblia, mas sem demonstrar pregação nem ciência, apenas uma mistura perfeita das duas. É uma verdadeira reconciliação entre Jesus Cristo e Sigmund Freud.


Sobre o autor
  Mark W Baker é psicologo, profundamente religioso, é diretor-executivo da clínica La Vie Counseling Center. Escreveu também outros livros, como "O poder da personalidade de Jesus" e "Como Jesus cura a dor". Vive na Califórnia, mais especificamente em Santa Monica e faz palestras em igrejas e faculdades.


Opinião
  Consegui esse livro de uma troca com uma amiga e me perdi nele com suas histórias reais e que são a realidade de muitos outros pelo mundo. Meu interesse é a psicologia e a literatura, por isso me interessa tanto uma história que reconcilie o inconciliável. Tenho um atendimento psicanalítico e uma frequência em missas e sei a visão de Sigmund Freud sobre a religião e vejo como ótima essa reconciliação.
  Mark demonstra uma perfeita sincronia entre os dois lados, o que me deixa muito feliz por ter trocado um livro que não gosto por esse que tenho em mãos.